segunda-feira, dezembro 19, 2005

Pontevedra: elógio do meu povo


Todo o mundo queria ir-se embora. Aqui não se percebem possibilidades e o ambiente provinciano asfixia. Mas quando se viveu fora, nada se aprecia mais do que o simples gesto de poder ir caminhando sem presa a qualquer lugar; ou poder jantar comida de verdade na casa e não uma sande no trabalho; ou ter sempre os amigos perto. É reconfortante ter lá os bares de sempre, os sítios onde a gente é conhecida e que estão tão incrustados na nossa personalidade que nem percebemos o que gostamos deles até que já os temos longe.

As grandes cidades são inumanas; não são lugares para viver. A mim que me deixem o meu Campillo os dias de chuva, a minha Alameda –sem Celulosas nem ponte da A9–, a minha Moureira, a minha Pedreira, a minha “Navarra”, o meu “Parvadas”, o cruzeiro das Cinco Ruas e essa Ferrería cheia de carrinhos de crianças os domingos pela manhã. Que me parem cada meio minuto para saudar a um conhecido. Que me arraste a maré de gente os domingos até o meu assento de sócio em Pasarón. Que me dêem os passeios pela ribeira do Lerez no verão, os miradouros do Mosteiro de Lerez, de Monteporreiro, de Matalobos... essa é que é a minha Castroforte del Baralla; essa é a minha Pontevedra, o meu povo.

Todas as cidades são susceptíveis de se converter em mitos. Santiago tem essa mística de pedra sempre golpeada pela chuva; Pontevedra poderia ter a sua de cidade plácida, de Arcádia urbana e provinciana, embora tudo seja "de pegote": o jornal, os políticos, a pretendida seriedade e a pretendida respeitabilidade. O único que tem Pontevedra de épico são as derrotas: Ence, a contínua seca de políticos capazes, a discriminação frente a outras cidades, os anseios de comparar-se com Vigo nos termos que menos lhe convêm, a cegueira ante as suas possibilidades, a mesquinhez dos empresários, a falha de visão e amor pela cidade dos vizinhos, o jactância de muitos deles...



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