sábado, março 11, 2006

11 de Março

O 11 de Março de 2004 no momento no que estouraram os comboios de cercanias em Santa Eugenia, El Pozo, Atocha e a mochila abandonada na mesma estação de Atocha, eu estava na cama. Isso não quer dizer que os atentados não me afectaram.

Até Dezembro de 2003 eu trabalhei no Liceu de Santa Eugenia. Todos os dias, eu tomava um cercanias que fazia o percorrido dos "trens da morte", só que no sentido contrário. A seguir a trabalhar lá em Março, algum dos comboios ter-se-ia cruzado com algum dos que eu tomava para ir trabalhar. Pode-se dizer que tive sorte.

Também pode se dizer que tive sorte porque aquele 11 de Março de 2004 era uma quinta-feira. Nas quintas, eu entrava tarde a dar as minhas aulas, assim que na hora na que estourou a mochila de Atocha, eu estava na cama. Qualquer outro dia, às mesmas horas, eu estaria em Atocha caminho de Parla, onde estava a trabalhar desde Janeiro.

Obviamente, posso considerar-me infinitamente afortunado se me tenho de comparar com os mortos, os feridos e os achegados aos mortos e feridos daquele dia terrível. Mas... ainda hoje oprime-me a gorja a lembrança das chamadas que recebi aquela manhã. Muita gente, a minha gente, passou momentos angustiosos até que pôde confirmar que eu estava bem.

Aquele dia foi impossível ir trabalhar. Em lugar disso, tive de ficar na casa vendo na televisão imagens de rostos conhecidos deformados pela dor: os meus primeiros alunos; os meus companheiros do Liceu de Santa Eugenia; os mestres do colégio que estava ao lado do meu Liceu e que sofreu mais as consequências dos atentados... Não foi doado contemplar essas caras, como podeis supor.

No dia seguinte, um dia frio e gris-chumbo, o mundo semelhava haver-se detido. No metro, nos comboios, o silêncio pesava toneladas e todo o mundo parecia vigilar-se. Às 12 suspendemos as aulas, reunimo-nos no pátio e lemos um manifesto contra a violência. Eu esquecera chamar ao centro o dia anterior, e muitos alunos e companheiros não sabiam se eu estivera em Atocha.

Penso que sorte que tive foi só relativa. Nada me afectou directamente, mas também não me privou de sofrimentos e momentos de angústia. Ainda hoje tenho a convicção íntima de que não saí indemne daquelas bombas. Por suposto, eu não sou uma vítima, mas, como todos os espanhóis, tenho direito a opinar e a ter uns sentimentos concretos a respeito dos atentados.


Por isso sinto uma raiva tão grande quando ouço a quem pretende evitar a sua responsabilidade, a quem não fez mais que mentir e manipular a informação que demandava o povo, insistir em que ETA teve algo a ver com as bombas ou, mais grave ainda, insinuar que o próprio PSOE esteve implicado nos atentados. Semelhantes afirmações não podem ocultar o facto de que o responsável dessas bombas tem nome, apelidos e bigode.

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