Três escritores para sempre
Dos actuais narradores galegos, quem conseguirá manter o interesse das futuras –e improváveis– gerações de leitores galegos? Nós inclinamo-nos por três nomes, de pessoalidades bem distintas entre si, mas cuja obra possui uma qualidade inegável.
Suso de Toro representa duas coisas muito importantes na literatura galega actual. Duma banda, as suas primeiras obras representam uma ruptura necessária com uma certa tradição literária que já esgotara o seu caminho nas letras galegas. Essas primeiras obras de Suso de Toro racham com tudo aquilo que cheirava a reseso e exploravam, quando não criavam, novas formas de expressão: a linguagem coloquial, a fragmentação narrativa, a renovação de temas... As personagens e os cenários nesta primeira etapa pertenciam a tipos galegos, mais os referentes literários provinham de fora da Galiza. Suso de Toro mantinha um olho na aldeia e na vila galega e o outro na história da literatura universal.
Esta etapa culminou com Tic-Tac, uma obra destinada a medrar em consideração com o tempo. A partir dessa obra, o próprio autor teve a honradez de reconhecer que ele também esgotara o seu caminho e dedicou-se ao que ele denominava algo assim como a recuperação da narração clássica. Os seus romances, desde Calzados Lola até Trece badaladas, reflectem uma progressiva madureza e um domínio cada vez maior dessa narração, longe já das experimentações de Caixón desastre ou Polaroid.
Por outra banda, de Toro representa também a reflexão sobre o ofício de escritor galego. Nos seus ensaios fala de Shakespeare ou Joyce, da necessidade de escrever em galego com a mente na maneira de expressão do inglês, das vantagens de adaptar a norma galega ao português (apoiando-se na simples consciência da amplitude de mercado que haviam ganhar os galegos, escritores ou não). Além disso, reclamava a galeguidade de Valle-Inclán e Torrente Ballester, recebendo paus a direita e esquerda por elo.
O segundo autor que merece manter o seu nome nos futuros manuais de literatura galega é Manuel Rivas, que representa a conexão telúrica com a Terra, com a Galiza. Os romances de Rivas dão sempre a impressão de estar escritos por encarnações da Terra e da Língua. O seu galego é doce e harmonioso, faz-nos sentir a sua familiaridade e arrola-nos durante a leitura. A saudade permeia a escritura de Manuel Rivas tanto como a preocupação pelo ser histórico do galego. E esse conhecimento do que é este país e como são as suas gentes, os seus povos, a sua paisagem e os seus animais está também presente nos seus textos jornalísticos. Neles, Manuel Rivas faz uso da sabedoria e a fala dos nossos avós e fá-lo ademais com sensibilidade, sentido crítico, perplexidade e uma ironia como não se via desde Julio Camba ou Wenceslao Fernandez Flórez. Quando Rivas solta um dardo num artigo, crava-o no mesminho centro do alvo. Só há que ler Galicia Galicia para perceber até que ponto o nosso autor é capaz de explicar a todos –galegos e godos– como é realmente este curruncho de Europa.
O terceiro dos nossos escritores preferidos é autor dum bon número de livros surpreendentes. Os nossos preferidos são aqueles pelos que descobrimos ao autor: Ártico e Contornos: apuntes de filosofía natural. Estas obras, as primeiras do autor, apontavam algo totalmente original dentro da literatura galega. O seu mérito era o duma modernidade absoluta na descrição duma forma de sensibilidade íntima e pessoal mas capaz de comover a qualquer leitor. Nos primeiros livros de Xavier Queipo havia ecos borgianos misturados com retalhos sobre geografias exóticas e deslumbrantes mundos ocultos baixo a capa de algo tão asséptico como a ciência. A sua producção posterior afastou-se algo deste estilo, mas o espírito que a alentava seguiu a ser o mesmo: distintas vestiduras para a mesma substância. Diarios dun nómada é um diário íntimo; O paso do noroeste um romance de primeiro ordem que mistura a aventura com a reflexão sobre a condição humana, ao igual que Papaventos.
Cuidamos que estes três autores pertencem por idade a um grupo geracional dentro da história da literatura galega. Esta breve lista haveria, se calhar, que acrescentá-la com outros nomes. Existe um feixe de apreciáveis narradores em língua galega além dos citados: Aníbal Malvar, Jaureguizar, Xelís de Toro... mas nenhum deles conseguiu ainda a unânime aceitação dos três que destacamos aqui.
Suso de Toro representa duas coisas muito importantes na literatura galega actual. Duma banda, as suas primeiras obras representam uma ruptura necessária com uma certa tradição literária que já esgotara o seu caminho nas letras galegas. Essas primeiras obras de Suso de Toro racham com tudo aquilo que cheirava a reseso e exploravam, quando não criavam, novas formas de expressão: a linguagem coloquial, a fragmentação narrativa, a renovação de temas... As personagens e os cenários nesta primeira etapa pertenciam a tipos galegos, mais os referentes literários provinham de fora da Galiza. Suso de Toro mantinha um olho na aldeia e na vila galega e o outro na história da literatura universal.
Esta etapa culminou com Tic-Tac, uma obra destinada a medrar em consideração com o tempo. A partir dessa obra, o próprio autor teve a honradez de reconhecer que ele também esgotara o seu caminho e dedicou-se ao que ele denominava algo assim como a recuperação da narração clássica. Os seus romances, desde Calzados Lola até Trece badaladas, reflectem uma progressiva madureza e um domínio cada vez maior dessa narração, longe já das experimentações de Caixón desastre ou Polaroid.
Por outra banda, de Toro representa também a reflexão sobre o ofício de escritor galego. Nos seus ensaios fala de Shakespeare ou Joyce, da necessidade de escrever em galego com a mente na maneira de expressão do inglês, das vantagens de adaptar a norma galega ao português (apoiando-se na simples consciência da amplitude de mercado que haviam ganhar os galegos, escritores ou não). Além disso, reclamava a galeguidade de Valle-Inclán e Torrente Ballester, recebendo paus a direita e esquerda por elo.
O segundo autor que merece manter o seu nome nos futuros manuais de literatura galega é Manuel Rivas, que representa a conexão telúrica com a Terra, com a Galiza. Os romances de Rivas dão sempre a impressão de estar escritos por encarnações da Terra e da Língua. O seu galego é doce e harmonioso, faz-nos sentir a sua familiaridade e arrola-nos durante a leitura. A saudade permeia a escritura de Manuel Rivas tanto como a preocupação pelo ser histórico do galego. E esse conhecimento do que é este país e como são as suas gentes, os seus povos, a sua paisagem e os seus animais está também presente nos seus textos jornalísticos. Neles, Manuel Rivas faz uso da sabedoria e a fala dos nossos avós e fá-lo ademais com sensibilidade, sentido crítico, perplexidade e uma ironia como não se via desde Julio Camba ou Wenceslao Fernandez Flórez. Quando Rivas solta um dardo num artigo, crava-o no mesminho centro do alvo. Só há que ler Galicia Galicia para perceber até que ponto o nosso autor é capaz de explicar a todos –galegos e godos– como é realmente este curruncho de Europa.
O terceiro dos nossos escritores preferidos é autor dum bon número de livros surpreendentes. Os nossos preferidos são aqueles pelos que descobrimos ao autor: Ártico e Contornos: apuntes de filosofía natural. Estas obras, as primeiras do autor, apontavam algo totalmente original dentro da literatura galega. O seu mérito era o duma modernidade absoluta na descrição duma forma de sensibilidade íntima e pessoal mas capaz de comover a qualquer leitor. Nos primeiros livros de Xavier Queipo havia ecos borgianos misturados com retalhos sobre geografias exóticas e deslumbrantes mundos ocultos baixo a capa de algo tão asséptico como a ciência. A sua producção posterior afastou-se algo deste estilo, mas o espírito que a alentava seguiu a ser o mesmo: distintas vestiduras para a mesma substância. Diarios dun nómada é um diário íntimo; O paso do noroeste um romance de primeiro ordem que mistura a aventura com a reflexão sobre a condição humana, ao igual que Papaventos.
Cuidamos que estes três autores pertencem por idade a um grupo geracional dentro da história da literatura galega. Esta breve lista haveria, se calhar, que acrescentá-la com outros nomes. Existe um feixe de apreciáveis narradores em língua galega além dos citados: Aníbal Malvar, Jaureguizar, Xelís de Toro... mas nenhum deles conseguiu ainda a unânime aceitação dos três que destacamos aqui.
Etiquetas: Galiza, Letras livres
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